Reconvexo - José Humberto dos Anjos


Ele Era um bom homem.
Amava as estações e admirava as flores.
Olhava para o fim e via o infinito
Ofertava flores, dava bombons.
Ouvia os outros, se recolhia sempre na dor.
Não incomodava nem seu Eu.

Ela era uma mulher comum.
Amava os homens e trocava-os como as árvores trocam folhas
Olhava uma pedra, via um abismo sem fim.
Dava aos homens, e deles se saciava por ela mesma.
Fala, falava, e mais palavras sempre lamentava.
Incomodava seu id valente.

E o desgraçado destino os uniu. Os predestinou!
E se conheceram e ele amou-a de forma singular
Laborava.
Amava.
Lutava.
Não desconfiava.

E os minutos se foram... a trama de Otelo se viu.
Ela se meteu nos caminhos de sempre.
E ele só de amor se cobriu.

Ela andou pelos bares
Conheceu os vizinhos.
Brincou com os amantes da rua
Se jogou nos homens da vila, se exibia ao brilho da lua.

E ele a amava.
E assim, a amou muito, amou-a sempre.
Pensava nela, pensava nela. Que pensamento triste ele pensava sempre.

E ele a amou.
Amou-a sempre e até o fim.
Até morrer sem causa, deitado na copa com o copo nas mãos e a carta na terra.

Pois a vida é tão justa com as pessoas erradas e tão injusta com as pessoas certas.

5 Response to "Reconvexo - José Humberto dos Anjos"

  1. Anônimo Says:
    10 de janeiro de 2011 às 16:55

    Dotado de grande sensibilidade poética, José Humberto, neste poema, expressa um acontecimento atual, comum, que afeta as pessoas de todas as classes sociais, sem é claro, ressaltar o papel daquele que sente o amor, que é essencial para o ser humano! Parabéns pelo texto.

  2. Irini Suego Martins Says:
    10 de janeiro de 2011 às 17:05

    É sempre surpreendente ler José Humberto que aliás é dos Anjos. Neste seu texto RECONVEXO posso ver o que a poesia tem de mais lindo a nos oferecer: o sentimento. Que vontade mais sincera de estar aqui em casa, sentado na cadeira de madeira velha, saboreando um bom vinho e nas mãos seu livro, seus textos, seus eus... O melhor que você sempre nos oferece. Viva José. Parabéns!

  3. Unknown says:
    10 de janeiro de 2011 às 17:06

    Uau poema extraordinário. A cada dia que se passa me admiração cresce mais ainda por você. Parabéns mesmo de coração. Que cada palavra que você escreva possa servir de reflexão na vida de quem interpreta os seus poemas. Pois você convence o leitor a sentir as mesmas emoções que você sente quando está escrevendo.

    Um beijo !
    Ana Paula Messias, sua fã número um!!

  4. Eduardo Says:
    10 de janeiro de 2011 às 17:18

    Lindo o poema! Puro sentimento numa narrativa em versos muito bem construída, foi um privilégio ter sido uns dos primeiros e lê-la! Parabéns, Zé!

  5. Tayza Azevedo says:
    10 de janeiro de 2011 às 18:30

    A poesia " Reconvexo" de José Humberto dos Anjos, quebra toda a visão de que homens não amam e que mulheres são frágeis, o que muito me agrada. Muitas mulheres e homens são discriminados, por posições sociais que homens tem que ser tal e mulheres tem que ser tal. Se esquecendo que o ser não é ele está no mundo(Heidegger), ele foi formado como tal, e não tem a obrigação de seguir certos padrões socias que excluem.Além disso, Anjos, sempre se demostrou ser uma pessoa sincera e a favor da democracia e justiça. Ler o Zé, meu Zé se assim posso me referir com carinho,é sempre um prazer, pois o mesmo sabe que lhe tenho grande admiração, é abrir para um novo olhar de um mundo contemporãneo, onde se há tantas vozes.

    Agora em particular, seu personagem aceita um novo amor ?
    kk. Brincadeira.(não é não eu quero um homem desse.)
    Parabens pelo texto.