Um E.T chamado erro


Creio que o verbo que mais temos dificuldades para conjugar é o verbo errar, principalmente quando a conjugação é na primeira pessoa do presente – Eu erro!
A história do erro nos condiciona a correr dele, vê-lo como se fosse o carimbo da incompetência, ou mesmo a marca da ignorância. Assim, quem comete um erro logo é colocado em evidência como errante e incompetente.
Estes dias quando abri a página de um jornal on line, observei que os leitores estavam indignados com os erros de português ali cometidos. Alguns gritantes, outros mais brandos; mas, eram erros, e isso era imperdoável, nos comentários.
Após ler as muitas críticas que os leitores ali faziam, me veio uma reflexão, que me pareceu ser muito boa para transformá-la em um texto. E aqui está.
Até que ponto o erro pode ser sinônimo de ruína?
Quando erramos dois fatores são sempre iguais: o primeiro é que ou desfavorecemos alguém, ou machucamos a nós mesmos. E o segundo é que podemos errar sozinhos ou tornar esse ato coletivo.
Em ambos os casos o mais perigoso não é errar e sim não assumir o erro, ou mesmo não tê-lo como degrau para a experiência.
Por mais que errar seja humano, quem erra é mais visto como um E.T do que como um homem. O clichê de que “errar é humano” já se tornou antigo, mas é verdadeiro. Errar não é só humano como também é saudável e necessário. Se os erros não fossem cometidos muitas certezas não poderiam ser ditas ou descobertas, pois o princípio das descobertas parte da coragem para errar.
Lógico que há erros e Erros, e isso não podemos negar. Quando ao escrever uma mensagem na porta do seu guarda roupa você estupra o português ao dizer “sou senpre limda” o erro cometido está direcionado apenas a você, pois a pessoa que comete o erro é a própria vítima dele. No entanto quando na mesma perspectiva escreve uma faixa, colocando-a em frente a sua casa com “vemdi si está”, o erro já é coletivo e afeta não só o errante como os leitores dele.
Percebido o erro, é hora de mudar, corrigi-lo. O que geralmente não acontece ou apresenta resistência para acontecer. E é importante saber nessa hora que permanecer no erro não é só uma burrice, mas também uma ignorância de quem por medo de concertar um erro acaba errando novamente. Errar é saudável, mas corrigir os atos falhos é o que concretiza a saúde da alma na integridade da honra.
Aqui usamos o exemplo da Língua Portuguesa, mas isso é geral e tão imperceptível que todos os dias somos bombardeados pelos erros dos outros antes mesmo de termos tempo para corrigir os nossos.
O erro sempre é uma faca de dois gumes, que fere quem o comete e machuca quem sem querer, ou mesmo querendo participa do erro alheio.