ENTRE PORCO, URUBU E GAVIÃO: ANO NOVO, PRECONCEITOS VELHOS - NOVELA RICHARLYSON

Mais um ano se aproxima e com ele a dádiva da transformação e renovação também anuncia sua chegada. Para muitos, a passagem de ano pode ser um momento ímpar de se fazer novo em todas as coisas, no entanto, para outros, essa virada não passa de uma data de festa e reencontro.
É inevitável que no final de ano, não haja aquela famosa parada reflexiva para se planejar os próximos passos e avaliar os que foram dados. É nesta parada, que podemos apontar sem medo os erros que provavelmente não serão desejados para o próximo ano.
Para 2010, muitos são os desejos, porém preconceitos e discriminações são dispensáveis para o futuro. Pensando nisso, compartilho com vocês leitores de extremo gosto do Virtnet, uma reflexão sobre a polêmica Richarlyson e o preconceito de uma pequena/grande parcela do povo brasileiro.
O ramo futebolístico, sempre foi carregado de escândalos e de projeções discutidas no cenário mundial, no entanto nenhum momento foi tão negado quanto a presença de jogadores homossexuais nos famosos clubes brasileiros.
Tido como um esporte exclusivamente para “machos”, o futebol sempre excluiu mulheres e homossexuais de suas atuações. No entanto, após longo tempo e ferrenha briga por espaço, as mulheres conseguiram de forma modesta sair da exclusiva função de animadoras de torcida e participar de forma mais ativa do futebol, seja como bandeirinhas, juízas ou mesmo jogadoras de grande prestígio e renome.
Vitórias delas... Luta incansável para eles. Pois se por um lado as mulheres foram aceitas, os homossexuais ainda são negados e perseguidos pela empresa futebolística. Como prova desta afirmação, podemos citar uma novela antiga e que no final deste ano parece ter ganhado mais forças do que nunca: a homossexualidade ou não do então jogado Richarlyson, do São Paulo.
O natalense de 27 anos, atualmente ocupa a posição de volante do São Paulo futebol Clube e já jogou em outros times brasileiros, atuando na seleção brasileira e em times do exterior. Em relação a sua atuação profissional, a crítica esportiva o classifica como um excelente jogador, o que já lhe rendeu prêmios importantes, como o “Bola de prata” em 2007 e os muitos títulos como o “Mundial de Clubes da FIFA” em 2005 e “Campeonato brasileiro” em 2006, 2007 e 2008.
Ou seja, talento o garoto tem! E isso é o que deveria importar, mas não é o que ocorre. A habilidade do jogador e suas inúmeras conquistas para o São Paulo, não são tão discutidas quanto sua orientação sexual. Rick, como gosta de ser chamado pelos amigos, tornou-se nos últimos tempos uma das figuras mais atacadas e vitimadas pela homofobia em massa.
No mês de novembro ao entrar em campo para mais uma partida, Richarlyson foi surpreendido por cerca de 50 mil vozes da torcida do São Paulo, que o insultava e pedia sua saída. Para parte dos são paulinos, ter um homossexual no time é um ultraje e mesmo que ele jogue bem e ganhe títulos, isso é lamentável.
Lamentável! Não há outra palavra para exemplificar a atuação dos torcedores e do futebol, no entanto essa manifestação só demonstra com mais vivacidade aquilo que acontece por todo o Brasil, em que muitas vozes são massacradas e minimizadas em seus talentos, apenas pela orientação sexual que têm.
Para 2010, que o novo seja realmente novo, e não somente mais uma passagem que aconteça entre fogos de artifício, roupas coloridas e desejos inalcançáveis. Que o respeito entre as pessoas, de fato aconteça e que o talento possa sobressair às orientações/opções individuais de cada um.
Que as pessoas possam ter o direito de responder ou não sobre suas escolhas e que as torcidas do futebol brasileiro possam aprender além dos espancamentos, mortes, exclusões e xingamentos se unindo respeitosamente e esquecendo a ridícula divisão entre urubu, porco, gavião e “viadinho”.